Você já ouviu falar em terapia focada na compaixão?

A terapia focada na compaixão (TFC) é considerada uma terapia comportamental contextual e vem sendo bem-sucedida no tratamento de pacientes com depressão, ansiedade, transtornos alimentares, da personalidade e outros.
Com origem no início do século 21, a TFC foi desenvolvida ao longo dos atendimentos e observações do psicólogo clínico e pesquisador britânico Paul Gilbert. Baseia-se em conhecimentos da psicologia evolucionista e das neurociências e na teoria do apego.
Também tem influências de filosofias orientais, como o budismo, que há muitos anos vem tentando mostrar a importância da compaixão para o bem-estar individual e social.
Mais do que uma filosofia ou princípios religiosos, a compaixão é uma habilidade necessária que pode ser aprendida e exercitada e que comprovadamente traz inúmeros benefícios.
Autocompaixão
Estudos mostram que a maneira como as pessoas falam consigo mesmas em situações desafiadoras ou momentos de dificuldade tem maior influência nos resultados do que o conteúdo da fala.
Quando há rispidez, as tentativas de mudar de perspectiva e ver as coisas de uma maneira mais positiva e otimista acabam falhando. A mente não aceita as alternativas que são dadas para melhorar a situação se não houver compassividade.
Sabe-se, ainda, que alguns indivíduos encontram grande dificuldade de desenvolver compaixão e afeto por si mesmos, sendo particularmente desafiador tratarem-se com gentileza.
Nesses casos, o grau de julgamento e autocrítica é elevado. Geralmente são pessoas que sofreram bullying e/ou experienciaram, em sua infância, pouco ou nenhum contato com compaixão, validação de seus sentimentos e de si mesmas, amparo e acolhimento.
Isso mostra a influência das relações primárias de apego, como as desenvolvidas com pais ou outros responsáveis, na capacidade de autocompaixão e resiliência.
Autocriticismo
Inicialmente, a terapia focada na compaixão foi desenvolvida para pessoas com profundo sentimento de vergonha e alto grau de autocriticismo, com dificuldade de serem calorosas e gentis consigo mesmas e de avançar em seu tratamento com terapias tradicionais.
Com o passar do tempo, foi constatada sua efetividade no tratamento de vários outros transtornos mentais.
A TFC atua, principalmente, para flexibilizar o autocriticismo, o sentimento de vergonha e a maneira como os indivíduos lidam com suas emoções.
A ideia é fortalecer um sistema interno de aconchego e acolhimento como forma de regulação emocional, assim como desenvolver aceitação e autocompaixão em vez de autocrítica exagerada.
Habilidade
A terapia focada na compaixão, portanto, desenvolve e fomenta a habilidade das pessoas para acessarem e direcionarem conscientemente motivações e emoções promotoras de vínculo e cuidado, com elas mesmas e com os outros, cultivando a compaixão e ajudando na organização do cérebro de maneira a promover inteligência e saúde mental.
Outros benefícios da TFC são o desenvolvimento de uma melhor percepção do indivíduo de si mesmo, autoconhecimento, alívio de sofrimentos, bem-estar interno, melhora nos relacionamentos interpessoais e uma vida mais equilibrada e feliz.
Essa abordagem terapêutica possui uma ampla diversidade de técnicas para auxiliar na criação e no aumento da autocompaixão, incluindo mindfulness (atenção plena).
Nos atendimentos terapêuticos, além da escuta atenta e empática, é trabalhado o treino da mente compassiva, em que o paciente aprende, exercita e promove a autocompaixão, a gentileza, a abertura, a aceitação e o cultivo do estado de presença em sua vida diária, mesmo diante dos desafios que está enfrentando.
Ferramenta
‘Autocompaixão – 100 cards’, de autoria das psicólogas Luana Ribeiro e Maria Eduarda de Freitas, é uma ferramenta que pode ser utilizada para o desenvolvimento da autocompaixão.
A publicação da editora RIC Jogos tem como objetivo treinar uma mente autocompassiva que gere satisfação com a vida, promova sentimentos de conexão social, estimule a iniciativa pessoal e desenvolva o afeto positivo.
Para uso clínico ou fora do consultório, o recurso possibilita que o paciente tenha uma nova perspectiva de praticar a gentileza consigo e, assim, enfraquecer os sentimentos negativos e os pensamentos autocríticos.