Setembro Amarelo: qual o objetivo dessa campanha?
O Setembro Amarelo tem como principal objetivo a conscientização para a prevenção do suicídio, buscando alertar a sociedade como um todo a respeito da realidade desse grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo e ampliando os debates sobre o tema. Ao logo do mês, diversas ações de sensibilização ocorrem e monumentos e prédios são iluminados com a cor.
Em 2013, o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo da Silva, deu notoriedade e colocou no calendário nacional a campanha internacional Setembro Amarelo. E, desde 2014, a ABP e o Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgam e conquistam parceiros no país inteiro com a iniciativa.
O décimo dia deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas a iniciativa se estende ao ano inteiro. Atualmente, o Setembro Amarelo é a maior campanha antiestigma do mundo. Em 2023, o lema é ‘Se precisar, peça ajuda!’.
Estatísticas
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), são registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo anualmente – se incluídas as subnotificações, estima-se que o número chegue a um milhão. No Brasil, são cerca de 14 mil casos por ano, ou seja, 38 pessoas cometem suicídio por dia em média.
Ainda conforme dados da OMS, todos os anos, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que de HIV, malária, câncer de mama, homicídios ou guerras. O fenômeno afeta indivíduos de diferentes origens, sexos, culturas, classes sociais e idades. Entre os jovens de 15 a 29 anos, é a quarta causa de morte depois de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal.
Definição e fatores
O suicídio é definido como um ato deliberado executado pelo próprio indivíduo cuja intenção seja a morte, de forma consciente e intencional, mesmo que ambivalente, usando um meio que ele acredita ser letal. Também fazem parte dos chamados comportamentos suicidas os pensamentos, os planos e as tentativas de tirar a própria vida.
O suicídio é resultante de uma complexa interação de agentes psicológicos, biológicos, genéticos, culturais e socioambientais. Sendo assim, significa o desfecho de uma série de fatores que se acumulam na história da pessoa, não podendo ser relacionado de forma causal e simplista apenas a determinados acontecimentos pontuais da vida. É, portanto, a consequência final de um processo.
Estigmas e prevenção
De acordo com os dados da cartilha Informando para Prevenir, da ABP e do CFM, quase 100% dos casos de suicídio registrados estão associados com histórico de transtornos mentais, como depressão e bipolaridade, que podem ser tratados. Entretanto 50% a 60% dos indivíduos que tiraram a própria vida nunca consultaram um profissional de saúde mental ao longo da vida.
Justamente pela possibilidade de prevenção é que se destaca a importância de falar sobre suicídio e de acabar com os estigmas que ainda existem em torno do assunto e que podem impedir a detecção precoce do problema.
Tais tabus, que consideram o suicídio uma espécie de fraqueza de conduta ou personalidade, assim como a falta de conhecimento e a ideia errônea de que o comportamento suicida não é frequente, condicionam barreiras para evitá-lo.
Orientação
A prevenção do suicídio, portanto, não se limita à rede de saúde, sendo necessária a existência de medidas em diversos âmbitos na sociedade que podem colaborar para a diminuição das taxas. A começar pela informação correta direcionada à população.
Em 2017, a ABP e o CFM criaram as Diretrizes para Participação e Divulgação do Setembro Amarelo. O documento serve para orientar toda a sociedade sobre a participação na campanha, como utilizar corretamente os materiais de utilidade pública produzidos e de que maneira incentivar a mobilização em cada região.
As entidades também disponibilizam para profissionais da imprensa a cartilha de orientações Comportamento Suicida: Conhecer para Prevenir, pois o papel dos meios de comunicação é fundamental nesse mutirão em defesa da vida.
Leitura
O livro ‘Suicídio: um problema de todos – Como aumentar a consciência pública na prevenção e na posvenção’ traz no título sua questão principal ao afirmar que o problema atinge todos com diversas intensidades e não apenas aqueles com ideação e tentativa de suicídio e seus familiares e amigos.
Publicada pela Sinopsys Editora, a obra expõe as ideias da autora, a psicóloga Karen Scavacini, que também analisa as campanhas atuais para a prevenção e posvenção do suicídio como perspectivas para informar e esclarecer a população diretamente afetada e aqueles que se aproximam do tema pela sua abrangência. São arroladas propostas que podem fundamentar as políticas públicas sobre a prevenção e principalmente a posvenção do suicídio no Brasil.
O livro evidencia que o estigma que envolve o tema – e, por conseguinte, as famílias e as pessoas com ideação ou tentativa de suicídio – provoca o silenciamento sobre o mesmo. Contrariando a ideia de que não falar sobre ele diminui sua incidência, esse silenciamento impede o cuidado adequado dos indivíduos. A autora deixa claro que é, sim, necessário falar sobre o suicídio, além da necessidade de políticas públicas que alcancem a posvenção, que, atualmente, não é abarcada.
Comunicação
Tendo em vista que a comunicação com ética e respeito é a principal tarefa do terapeuta que trabalha com o tema, o livro objetiva, ainda, aumentar a comunicação de forma responsável, isto é, com um diálogo que faça sentido para as pessoas com ideação suicida e que as acolham e as ouçam verdadeiramente. Partindo da teoria fundamentada nos dados (TFD), apresenta reflexões e sugestões de atuação para a ampliação da conscientização sobre o suicídio.
A publicação é indicada a todos profissionais que queiram saber mais como falar de forma correta sobre o suicídio, como aumentar a consciência pública e como transformar ideias em ações. Pode ser utilizada por psicólogos, médicos, educadores, profissionais da mídia, da área de segurança e das políticas públicas. Também podem se beneficiar estudantes de diferentes áreas, assim como pessoas vivendo situações de sofrimento com ideação e tentativa de suicídio, familiares, amigos e todos que se envolvem com o tema.