Os medos na infância são uma temática recorrente
Os medos na infância são muitos e, por vezes, não estão diretamente vinculados à realidade, ganhando sentido a partir das interpretações das crianças. Com uma função protetiva, o medo é uma emoção primária, ou seja, já nasce com todo ser humano e se manifesta de diferentes maneiras, transformando-se à medida que o indivíduo cresce e se desenvolve.
Um dos mais comuns entre bebês, que costuma aparecer a partir do quinto mês de vida, é o medo de estranhos. Já reconhecendo a voz de seus pais e das pessoas próximas, os pequenos tendem a se assustar na presença de desconhecidos e essa ansiedade é demonstrada principalmente por meio do choro e da inquietação. Junto com ele, um dos medos da infância mais presentes nessa fase é o medo de separação dos cuidadores.
Quando ganha a capacidade de relacionar causa e efeito, a partir dos 2 anos de idade, a criança passa a estranhar barulhos altos e também objetos que se movem de forma repentina, rejeitando o que não faz parte do seu cenário habitual. Nos anos seguintes, a imaginação acaba sendo uma grande influenciadora dos medos na infância.
Com suas capacidades cognitivas mais desenvolvidas, crianças de 3 e 4 anos têm como medos mais presentes o do escuro, de dormirem sozinhas, de monstros, de fantasmas, de pessoas fantasiadas. É comum que percebam essas situações como perigosas a partir de histórias que tenham ouvido.
Concretos
A partir dos 5anos, os medos na infância passam a ficar mais concretos. Isso acontece porque as crianças passam a prestar mais atenção no ambiente ao seu redor. Nessa fase, os medos que aparecem com mais frequência são o de se perder, de ladrões, dos pais se separarem, de se machucarem, de animais, entre outros.
À medida que vão conseguindo separar a fantasia da realidade, os pequenos ficam mais independentes e seus medos sofrem uma nova metamorfose, se revelando em novos e intensificados formatos. Entre os 6 e 7 anos, passam a experienciar o medo do fracasso escolar, de errar e do sobrenatural.
Já a partir dos 8 anos, o entendimento de que a morte é uma perda irreversível e inevitável é um dos grandes medos na infância. Além de temerem a própria morte, a preocupação da possível perda dos pais e/ou outros entes queridos pode assolar as crianças.
Causas
Os medos na infância podem ter várias causas, como experiências desagradáveis que ficam registradas e são trazidas à tona cada vez que se tem um gatilho.
Ou, até mesmo, falas despretensiosas de adultos que, para tentar ensinar determinados comportamentos, acabam desenvolvendo ideias ou medos sobre aquilo, por exemplo: “o bicho vai te pegar”, “o homem do saco vai vir”, “ali tem o bicho-papão”.
Como as crianças fantasiam muito, há uma tendência a distorcerem essas falas e, desse modo, fazerem registros cognitivos que ficarão marcados e irão acompanhá-las por um bom tempo.
Alerta
Por ser uma emoção natural de proteção, os medos na infância, na sua grande maioria, não trazem malefícios permanentes. Algo pontual, tendem a ser controlados com acolhimento ou com o afastamento da fonte que causa temor.
No entanto, pais ou outros responsáveis devem ficar alertas para casos em que as reações da criança se intensificam e se prolongam, ocorrendo com frequência.
Nessas situações, o medo já se transformou em pânico e, além de acarretar choro intenso e ansiedade excessiva, pode gerar fobias e até paralisar as crianças quando colocadas face a face com a fonte de seu temor.
Pode influenciar, ainda, na sua vida adulta. Para o combate desses males, o acompanhamento psicológico é uma das ferramentas indispensáveis, assim como o apoio familiar.
Jogo
O jogo ‘Caixa dos medos: estratégias de enfrentamento e reestruturação cognitiva’ foi criado para auxiliar as crianças a enfrentarem seus mais diversos medos, reais ou imaginários, utilizando-se de estratégias de solução ou possiblidades para lidar com eles, bem como estratégias de humor e diversão.
A ferramenta apresenta 36 cartas com frases de enfrentamento e reestruturação cognitiva para se trabalhar 12 tipos de medos diferentes, havendo, portanto, três cartas para cada medo.
De autoria da psicóloga Camilla Volpato Broering e publicada pela editora RIC Jogos, pode ser utilizada nos contextos familiar e clínico com crianças acima dos 5 anos de idade.