O transtorno da personalidade borderline e a DBT
O transtorno da personalidade borderline (TPB) é caracterizado por um padrão de intensa desregulação emocional e de hipersensibilidade nos relacionamentos interpessoais.
Considerado um dos distúrbios mentais mais difíceis de se tratar e com maior estigma social associado, o TPB leva os indivíduos a desenvolverem uma série de comportamentos impulsivos e autodestrutivos e até mesmo a desorganização do seu senso de self.
Sem origem única estabelecida, o transtorno da personalidade borderline é diagnosticado por meio dos sintomas, que, além dos já citados anteriormente, incluem hostilidade, irritabilidade, insegurança e sensação de inutilidade.
É muito comum que pessoas com TPB sejam taxadas de irritadas, dramáticas, complicadas e imprevisíveis. Entretanto, suas atitudes exageradas fogem do seu controle. Com mudanças súbitas de humor, elas vão da alegria à tristeza em instantes.
Alternando momentos de estabilidade com episódios de ira, depressão e ansiedade, o border (apelido usado pelos especialistas) demonstra muita inconstância.
Essas crises, que, em grande parte, duram poucas horas, mas podem se estender por dias, são como explosões ocasionadas por pequenos gatilhos, seja uma situação inesperada, seja uma frustração.
Tratamento
Entre as abordagens psicoterapêuticas adotadas para tratar o TPB, a terapia comportamental dialética, mais conhecida como DBT (do inglês dialectical behavior therapy), demonstra grande eficácia e geralmente é aliada ao uso da farmacoterapia.
Desenvolvida a partir da década de 1970 pela psicóloga norte-americana Marsha Linehan, a DBT foi originalmente concebida para tratar pessoas cronicamente suicidas com transtorno da personalidade borderline, mas hoje tem sua efetividade comprovada também no tratamento de uma série de outros transtornos.
Parte da terceira onda das terapias cognitivo-comportamentais (TCCs), a terapia comportamental dialética está baseada em uma teoria biossocial transacional da etiologia dos problemas de regulação do afeto do TPB.
Indivíduos com uma vulnerabilidade emocional biológica criados em ambientes que invalidam sistematicamente suas experiências internas e comportamentos manifestos desenvolvem déficits na capacidade e na motivação para manejar suas emoções e outros aspectos da vida.
Os programas da DBT abordam de forma abrangente esses déficits, fornecendo um tratamento multimodal em estágios que foca toda a gama de transtornos comórbidos do paciente de forma hierárquica.
Treinamento de habilidades
A terapia comportamental dialética integra estratégias da TCC com aspectos da prática zen, utilizando a filosofia dialética para sintetizar essas duas perspectivas contrastantes em um conjunto coerente de princípios do tratamento.
Um dos aspectos mais conhecidos da DBT é o currículo de treinamento de habilidades. São quatro módulos divididos em dois grupos: habilidades de aceitação e de mudança. A meta é munir o paciente de ferramentas necessárias para lidar e modificar sua desregulação emocional.
No grupo de habilidades de aceitação, estão inclusos o módulo mindfulness e o módulo de tolerância ao mal-estar. Já no grupo de habilidades de mudança, constam o módulo de efetividade interpessoal e o da regulação emocional.
Ferramentas
Há também ferramentas terapêuticas que contribuem na importante missão dos psicoterapeutas e, consequentemente, na conquista da liberdade e da alegria de viver pelas pessoas com transtorno da personalidade borderline.
Um exemplo são os cards ‘Anticrises psicológicas’, de autoria do psicólogo Ramiro Figueiredo Catelan e publicados pela editora RIC Jogos.
Direcionado para uso nos contextos clínico e familiar com indivíduos a partir dos 18 anos de idade, o recurso ajuda a lidar com sofrimento intenso e crises decorrentes de transtornos de desregulação emocional.
O conteúdo é autoinstrutivo e focado em sugestões de manejo, recomendações clínicas e frases de estímulo/apoio baseadas em evidências da terapia comportamental dialética.