O que é o modelo cognitivo e sua importância para as TCCs?
O modelo cognitivo desenvolvido pelo psiquiatra norte-americano Aaron Beck a partir da década de 1950 norteou a compreensão do funcionamento mental humano e dos processos cognitivos envolvidos nos transtornos mentais, sendo a base teórica fundamental das terapias cognitivo-comportamentais (TCCs).
Apoiado em sua orientação psicodinâmica, Beck percebeu uma conceitualização cognitiva da depressão na qual os pacientes apresentavam, atrelado aos sintomas, um estilo negativo de pensamento sobre si mesmos, sobre o mundo e o futuro – tríade cognitiva negativa.
Ele propôs, então, uma terapia cognitivamente orientada para reversão das cognições disfuncionais e de comportamentos a qual foi testada e, posteriormente, estendida aos mais variados quadros clínicos.
Distorções
Embora advenham de fundamentos teóricos distintos, as TCCs explicam e intervêm nas psicopatologias à luz do modelo cognitivo. Isso porque consideram que os sintomas emocionais, fisiológicos e comportamentais prejudiciais são resultados da forma como as pessoas interpretam as situações, ou seja, de suas distorções cognitivas.
Todas as terapias cognitivo-comportamentais pressupõem a cognição como elemento essencial às mudanças terapêuticas na mesma medida que alterações comportamentais geram mudanças cognitivas.
Dessa forma, mudanças em qualquer um dos componentes do processamento da informação (pensamento, comportamento, emoção, fisiologia) podem dar início a modificações nos demais.
Processamento
De acordo com as TCCs, há três níveis básicos de processamento cognitivo: pensamentos automáticos, crenças intermediárias e crenças nucleares.
Os pensamentos automáticos são privados e ocorrem de maneira breve e fugaz. Podem ocorrer na forma verbal, de imagens, pequenos filmes ou flashes. Fazem parte de um padrão habitual de pensamentos, por isso, as pessoas têm dificuldade de percebê-los.
Já as crenças intermediárias refletem ideias ou uma percepção mais profunda do que os pensamentos automáticos. Ocorrem sob forma de suposições, regras ou pressupostos, atuando como suporte para as crenças nucleares.
Por sua vez, as crenças nucleares são o nível mais profundo da estrutura cognitiva e compostas de ideias inflexíveis, absolutistas, globais e generalizadas. Representam os mecanismos desenvolvidos pelos indivíduos para lidarem com as situações cotidianas, como percebem a si mesmos, aos outros e ao mundo e ao futuro (tríade cognitiva).
Princípios
Com base nesses três níveis de cognição, os psicoterapeutas das TCCs atuam de diferentes formas. Existe, no entanto, um formato de funcionamento que envolve princípios fundamentais.
Um desses princípios é a conceitualização cognitiva do caso, que engloba a compreensão das queixas e dos problemas do paciente e é algo contínuo e em constante desenvolvimento no processo terapêutico.
Outro princípio é a aliança terapêutica, sendo que essa relação deve se estabelecer em uma conduta de empatia, respeito, confiança e colaboração.
As TCCs também são estruturadas, focadas nos problemas atuais e nas metas estabelecidas mutuamente para o tratamento como um todo.
Embora a ênfase no presente seja outro princípio, se considera uma perspectiva longitudinal, pois os problemas da atualidade podem se relacionar com questões do passado e futuro.
Já os princípios da psicoeducação e da prevenção de recaídas são educativos. Visam ensinar o paciente a ser seu próprio terapeuta, a identificar, avaliar e responder a seus pensamentos e crenças disfuncionais, enfatizando a prevenção da recaída na etapa final do processo.
Outro importante princípio é o uso de uma variedade de técnicas para mudar o pensamento e o comportamento do indivíduo. Entre elas, estão a psicoeducação, o pensamento socrático, o registro dos pensamentos disfuncionais e as tarefas terapêuticas, por exemplo.
Ferramenta
No processo de mudança proposto pelas TCCs, também podem ser utilizados recursos lúdicos. O ‘Tabuleiro cognitivo’, publicado pela editora RIC Jogos, é um jogo para identificar crenças e pensamentos disfuncionais.
De autoria das psicólogas Catarina Brandão e Regina Azevedo, foi criado com o objetivo de guiar o paciente de forma colaborativa à reflexão de seus pensamentos disfuncionais e de suas crenças intermediárias e nucleares no set terapêutico.
A ferramenta facilita a comunicação entre terapeuta e paciente principalmente nos casos de introspecção, podendo ser usada na terapia com adultos, casais e famílias, assim como auxiliar no processo de psicodiagnóstico terapêutico.