Maconha na adolescência: como tratar o tema em clínica?
O uso da maconha na adolescência ocorre em qualquer classe social, e mesmo abstêmios têm amigos que fumam. Seja por curiosidade, necessidade de aceitação do grupo, ansiedade, insegurança, seja por outras questões, são altas as chances de que essa droga seja experimentada em certas fases da juventude.
No entanto, as pessoas em geral ainda têm pouca informação sobre a maconha e seus compostos psicoativos, como o tetra-hidrocanabinol (THC), responsável pelos seus efeitos alucinógenos. Nesse contexto, a informação é ferramenta essencial para trabalhar o assunto na clínica de psicologia com jovens.
Efeitos benéficos e maléficos
A maconha é usada pelos seres humanos há milhares de anos. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é a droga psicoativa ilícita mais utilizada no mundo na atualidade. Com efeitos como sensação de alegria e relaxamento, também pode ser legalmente vendida ou receitada como medicamento em vários países.
No entanto, estudos comprovam que o impacto do uso repetitivo da maconha no cérebro ainda adolescente pode ser nocivo, interferindo na memória, atenção, velocidade de processamento das informações e na capacidade de concentração e aprendizagem.
A explicação está na vulnerabilidade do tecido cerebral na infância e adolescência. O córtex pré-frontal, responsável por funções superiores, como julgamento, tomada de decisões e controle da impulsividade, só completa a fase de amadurecimento ao redor dos 25 anos de idade, bem mais tarde do que as áreas encarregadas do processamento das emoções.
Como o THC distorce a troca de informações entre os neurônios, a exposição frequente a ele pode modificar de forma persistente a arquitetura das redes neuronais que coordenam a cognição. Em alguns adolescentes predispostos, essas alterações levam à compulsão que está na base da dependência química.
Magnitude
Evidências sugerem que o uso diário ou semanal da maconha por adolescentes durante anos consecutivos pode causar alterações neuropsicológicas que persistem além do período de intoxicação aguda.
Pesquisas revelam de forma consistente que os usuários crônicos têm resultados piores nos testes neuropsicológicos. Em alguns deles, a deficiência foi detectada mesmo depois de anos de abstinência.
Portanto, a magnitude do déficit cognitivo será maior quanto maiores forem as quantidades consumidas, a frequência e a duração do consumo e a precocidade da iniciação.
Clandestinidade
A ignorância em relação a esses fatos é uma das consequências da clandestinidade, que contribui para que a falta de informação sobre os efeitos colaterais da maconha se perpetue.
Sendo assim, em vez de repressão, os adolescentes carecem de ensinamentos claros para entender que compostos psicoativos como o THC provocam efeitos colaterais, alterações neurobiológicas e podem causar dependência química.
Recurso terapêutico
Um recurso terapêutico que pode ser utilizado em contexto clínico para psicoeducação é o ‘Maconha sem viagem’. Publicado pela editora RIC Jogos, o material foi elaborado pelas psicólogas Renata Brasil Araujo e Sabrina Presman e pela psiquiatra Alessandra Diehl.
Contém 56 cards com perguntas e respostas que fornecem informações científicas a respeito da maconha direcionadas a adolescentes, adultos e familiares de usuários. Com uma linguagem simples, informa sobre as características da substância, seus efeitos, benefícios e prejuízos.