Ansiedade na infância: quando aparece e quais os sintomas?
A ansiedade na infância engloba estados de medo, preocupação ou pavor desproporcionais à situação real geralmente acompanhados de sintomas físicos, como falta de ar, dor no peito e palpitações. Pode prejudicar as habilidades funcionais e causar grande sofrimento à criança, impactando inclusive na aprendizagem e nas relações sociais.
Para evitar que o problema se agrave e se estenda à fase adulta, é importante que pais ou outros responsáveis estejam cientes de que são importantes o diagnóstico e o tratamento adequados imediatos.
Atrás do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), a ansiedade é uma das patologias psicológicas mais comuns na infância, atingindo cerca de 10% dessa população. Os tipos mais frequentes são de separação, generalizada, fobias específicas, fobia social, agorafobia e transtorno do pânico.
Medos normais
Determinado grau de ansiedade na infância é normal do desenvolvimento. A maioria das crianças pequenas revela, por exemplo, algum medo ao se separar das mães, especialmente em ambientes não familiares.
Já entre 3 e 4 anos de idade, é comum o medo do escuro, de monstros, insetos e aranhas. Por sua vez, a criança tímida reage a novas situações com medo ou se afastando.
E nas crianças maiores, os temores mais comuns são de agressão ou de morte e elas podem ficar ansiosas quando precisam apresentar alguma tarefa diante dos colegas.
Tais dificuldades não devem ser encaradas como evidências de ansiedade na infância. Entretanto, se essas manifestações se tornarem exageradas a ponto de prejudicar significativamente a função ou causar aflição grave ou evitação, o transtorno deve ser considerado.
Origem
Evidências sugerem que a ansiedade na infância envolve disfunção nas partes do sistema límbico e do hipocampo que regulam as emoções e a resposta ao medo. Estudos de hereditariedade indicam que fatores genéticos e ambientais influenciam.
Alguns episódios vivenciados pela criança podem engatilhar o transtorno, entre eles, o estado emocional da mãe durante a gestação. Caso a gestante tenha se sentindo muito ansiosa pela saúde do bebê ou por algum outro motivo, é possível que o pequeno tenha absorvido esse sentimento e aprendido a ser ansioso.
Também entre os gatilhos da ansiedade na infância, constam histórico de abuso e violência, ter sofrido algum trauma, como a perda de um ente querido, e crescer numa família que é ansiosa.
Pais ansiosos tendem a ter filhos ansiosos. Mesmo uma criança não ansiosa tem dificuldades para permanecer calma na presença de cuidadores ansiosos, o que se torna um desafio para quem é geneticamente predisposto. Por isso, em muitos casos, é útil tratar os adultos também.
Sinais
É comum a criança apresentar sintomas de ansiedade na infância quando os pais se separam, quando ocorrem mudanças abruptas em seu cotidiano ou quando algum ente querido morre.
Diante dessas situações, os adultos devem ficar atentos aos sinais que a criança pode apresentar, se a mesma demonstra alguma alteração no humor ou mudanças relevantes em seu comportamento.
Nesses casos, entre os sintomas mais frequentes, estão choro sem explicação, acordar no meio da noite assustada, reações inesperadas a situações simples e do cotidiano, mudanças nos hábitos alimentares, apego exagerado com um dos pais e medos sem sentido aparente.
A esquiva escolar também é um dos sinais mais comuns, pois o medo real da escola é raro e normalmente está relacionado à intimidação (bullying). A maioria das crianças que se recusa a ir ao colégio provavelmente tem ansiedade por separação, fobia social, transtorno de pânico, fobia específica ou a combinação de mais de um transtorno.
Algumas verbalizam os motivos, como, por exemplo, se queixam de medo de nunca mais verem os pais (ansiedade de separação) ou de que os colegas caçoem delas (fobia social). Grande parte, no entanto, frequentemente somatiza os transtornos, geralmente com dor abdominal, náusea e cefaleia.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico do transtorno de ansiedade na infância é clínico e deve ser feito por um profissional. A confirmação pode vir da história psicossocial. Entretanto, como os sintomas físicos podem confundir a avaliação, os pacientes podem ser submetidos a exames físicos antes de o distúrbio ser considerado.
O prognóstico depende da gravidade, da disponibilidade de tratamento adequado e da receptividade da criança. Na maioria dos casos, os pacientes levam os sintomas da ansiedade para a vida adulta. No entanto, com o tratamento precoce, muitos aprendem a controlá-la.
Para o tratamento da ansiedade na infância, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem se mostrado efetiva. Em alguns casos mais graves, o acompanhamento conjunto do psiquiatra e a utilização de medicamentos são necessários.
Ferramenta
Para uso na psicoterapia com crianças a partir dos 5 anos, o jogo ‘Momentos terapêuticos: trabalhando transtornos na infância’, da editora RIC Jogos, é indicado para levantamento de comportamentos e pensamentos relacionados a ansiedade, tristeza/depressão, desafio/transtorno de oposição desafiante (TOD) e controle/transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
De autoria da psicóloga Juliana Vieira Almeida Silva, traz cartas relacionadas ao questionamento socrático ou questionamento de evidências (cartas possibilidades). Também tem como opção cartas denominadas pense zen, cujo objetivo é auxiliar a garotada a ter o pensamento no aqui e agora.