Alienação parental: como trabalhar em psicoterapia?
Estima-se que 16 milhões de crianças e adolescentes sejam vítimas de alienação parental no Brasil, sendo a prática muito comum no cotidiano de diversas famílias, podendo acarretar problemas psicológicos relevantes até na fase adulta dos indivíduos-alvos.
Entende-se por alienação parental o contexto em que a mãe ou o pai manipula o filho para que rompa seus laços afetivos com o outro genitor, afastando a criança ou o adolescente do convívio com ele sem que haja motivos significativos para subsidiar tal atitude.
A alienação parental está presente na vida das famílias não só em casos de separação de casais com filhos, mas também dentro do próprio casamento e/ou na vida de pais sem histórico de convivência.
Em resumo, está presente nos conflitos com diversas nuances. Pode ocorrer inclusive alienação de avós, de tios e outros integrantes da família.
No caso da separação do casal, a guarda unilateral de um dos pais é terreno fértil para o crescimento da alienação parental, tendo como uma das armas até mesmo falsas acusações de abuso.
Tratamento
A terapia familiar conduzida por um profissional qualificado é recomendada para o tratamento de alienação parental e visa proteger os indivíduos-alvos contra danos causados pela alienação, melhorar seu bem-estar psicológico, desafiar seus pensamentos distorcidos e fortalecer suas habilidades de pensamento crítico.
A psicoterapia também visa preparar o genitor alienante para melhorar a qualidade do relacionamento entre pais e filhos e apoiá-los por meio dessa mudança, reparar a relação entre pais e filhos, assim como fortalecer a comunicação familiar e os limites saudáveis dentro da nova estrutura familiar.
Técnicas
Várias das técnicas utilizadas no tratamento psicoterapêutico da alienação parental vêm da terapia cognitivo-comportamental (TCC) ou de outras terapias com foco no comportamento.
A psicoeducação para todos os membros da família sobre a natureza e o tratamento da alienação parental, por exemplo, é uma parte importante do processo.
Outra indicação é a de que o tratamento da alienação parental deve ser feito por todos os membros da família, preferencialmente, e pelo mesmo profissional ou a mesma equipe.
Psicologia jurídica
A psicologia jurídica é uma ramificação da psicologia que oferece um leque de oportunidades para a atuação do psicólogo.
O profissional especializado nessa área está inserido nas varas criminais, da infância e juventude, na justiça do trabalho e, entre outras, nas varas de família, onde são tratados os casos de violência, abandono, separação conjugal, disputa de guarda, regulamentação de visita e, mais recentemente, os casos de alienação parental.
Em 2010, foi promulgada a Lei Federal Nº 12.318, que dispõe sobre a alienação parental. Nela, revela-se a importância da perícia psicológica e, dependendo do caso, do acompanhamento psicológico, ou seja, da participação ativa do psicólogo na detecção e no tratamento dessa prática.
Ferramenta
Ferramentas lúdicas contribuem no tratamento da alienação parental em psicoterapia. Um exemplo é o ‘Jogo das atividades parentais’, de autoria das psicólogas Camila Stor de Aguiar e Nathália Della Santa Melo Dantas.
Publicado pela editora RIC Jogos, o recurso terapêutico pode ser utilizado nos contextos familiar e terapêutico com as faixas etárias acima dos quatro anos de idade. Foi desenvolvido a partir da prática clínica com crianças que vivenciavam conflitos no âmbito familiar e da prática jurídica em perícias psicológicas para varas de família.
Nasceu da necessidade de instrumentalizar a avaliação da dinâmica familiar e das habilidades parentais. Pode ser utilizado em psicoterapia infantil, terapia de família ou em contexto que seja relevante a avaliação de habilidades parentais.